_Momentos_

Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.... (Carlos Drummond de Andrade)

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quinta-feira, dezembro 10, 2009

O idoso da estação

Hoje, no percurso Entrecampos-Monte Abrãao, dei comigo a pensar numa manhã passada há já alguns anos.
Numa manhã, em que não parava de chover, tive de ir a Queluz, por motivos que agora não me recordo. No regresso a casa, sentei-me num banco, perto de um idoso, enquanto esperávamos o comboio.
A conversa entre nós surgiu naturalmente, começou por uma crítica ao mau tempo. Reparei que enquanto falava comigo o senhor continuava a olhar em frente como se a minha presença, naquela manhã, fosse apenas uma voz.
Depois de uma troca de palavras metereológicas o idoso passou a outro tema "Posso dizer-te um coisa sem que fiques triste?". Pensei alguns segundos, estava um pouco apreensiva com o que dali podia vir, mas respondi, finalmente, que sim, "Não quero que fiques triste, mas tens poucos amigos". Numa mistura de emoções pus-me a pensar nas minhas melhores amigas, da altura, contei-as e respondi "Tenho poucas mas boas amigas e isso é o mais importante", "As que pensas serem tuas amigas, não o são. Tens menos amigas do que pensas ter.".
Ainda surpreendida com as palavras perguntei-lhe como sabia isso e a resposta foi-me dada com um sorriso e com as seguintes palavras "Não quero que fiques triste. Vais ser muito feliz. Não contes o que te disse a ninguém.".
O comboio chegou e levantei-me sem saber se devia achar que o idoso era maluco ou vidente. A verdade é que as coisas que não se conseguem explicar, mas como o outro diz "que as há, há" sempre me suscitaram interesse.
Entrei no comboio e encostei-me à porta, virada para a rua. O idoso permaneceu sentado e mais uma vez não olhou para mim. Afinal, pensei eu, não estava à espera do comboio.
Durante todo o dia aquele estranho momento não me saiu da cabeça. No entanto, acabei por concluir que o senhor não devia estar bom da cabeça e por isso não devia dar importância ao que ele me acabara de dizer até porque as amizades que eu tinha eram para a vida toda.
Os meses passaram e algumas amigas que eram "melhores amigas" deixaram-no de o ser pelas mais estúpidas razões ou talvez porque apenas fosse preciso um pretexto para que tudo se evaporasse.
Tenho sido feliz, não me posso queixar. Fiz novas amigas, reciclei outras amizades que na altura não valorizei como devia e encontrei o amor. Não preciso de mais. Sinto-me completa.

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